A Mulher Samaritana e a Adoração Genuína
- Talita Araújo
- 26 de fev.
- 7 min de leitura
Atualizado: 27 de fev.

Texto Base: João 4:9-27 (NVI)
“[...] A mulher samaritana lhe perguntou: ― Como o Senhor, sendo judeu, pede a mim, uma samaritana, água para beber? Ela perguntou isso porque os judeus não se dão bem com os samaritanos. Jesus lhe respondeu: ― Se você conhecesse o dom de D-us e quem está pedindo água, você lhe teria pedido e ele lhe daria água viva. A mulher disse: ― O Senhor não tem com que tirar água, e o poço é fundo. Onde pode conseguir essa água viva? Acaso o Senhor é maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu o poço, do qual ele mesmo bebeu, bem como os seus filhos e o seu gado? Jesus respondeu: ― Quem beber desta água terá sede outra vez, mas quem beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede. Ao contrário, a água que eu lhe der se tornará nele uma fonte de água a jorrar para a vida eterna. A mulher lhe disse: ― Senhor, dê‑me dessa água, para que eu nunca mais tenha sede nem precise voltar aqui para tirar água. Ele lhe disse: ― Vá, chame o seu marido e volte. ― Não tenho marido — respondeu. Jesus lhe disse: ― Você falou corretamente ao dizer que não tem marido. O fato é que você já teve cinco, e o homem com quem agora vive não é seu marido. O que acabou de dizer é verdade. A mulher disse: ― Senhor, vejo que é profeta. Os nossos antepassados adoraram neste monte, mas vocês, judeus, dizem que Jerusalém é o lugar onde se deve adorar. Jesus declarou: ― Creia em mim, mulher: está próxima a hora em que vocês não adorarão o Pai nem neste monte nem em Jerusalém. Vocês, samaritanos, adoram o que não conhecem; nós adoramos o que conhecemos, pois a salvação vem dos judeus. No entanto, está chegando a hora, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade. Estes são os adoradores que o Pai procura. D-us é Espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade. A mulher disse: ― Eu sei que o Messias vem, e que é chamado Cristo. Quando vier, ele nos explicará tudo. Então, Jesus declarou: ― Eu sou o Messias! Eu, que estou falando com você. Naquele momento, os seus discípulos voltaram e ficaram surpresos ao encontrá‑lo conversando com uma mulher. Ninguém, porém, perguntou: “O que pretendes?” ou: “Por que estás conversando com ela?”.
Introdução: O Contexto Histórico entre Judeus e Samaritanos
Para compreender plenamente o ensinamento de Jesus sobre a verdadeira adoração em João 4:24 (“D-us é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade”), considero essencial abordar o contexto histórico que envolvia os judeus e samaritanos.
Os judeus e samaritanos possuíam uma história de inimizade que remontava à divisão do reino de Israel após a morte do rei Salomão. O Reino do Norte, que passou a se chamar Israel, foi conquistado pelos assírios em 722 a.C. e sofreu um processo de miscigenação entre israelitas e povos estrangeiros, dando origem aos samaritanos. Estes eram vistos pelos judeus como impuros e hereges, pois tinham um culto próprio no monte Gerizim, rejeitando grande parte das Escrituras hebraicas e o templo de Jerusalém como centro exclusivo da adoração.
Essa rivalidade era tão intensa que judeus evitavam passar pela Samaria ao viajarem entre a Judeia e a Galileia. No entanto, Jesus rompeu essa barreira cultural e histórica ao interagir com uma mulher samaritana junto ao poço de Jacó, um episódio que carrega significados profundos sobre a adoração verdadeira. Para entendermos essa passagem é relevante explorar alguns pontos. Para tanto, serão explanadas em cinco pontos algumas lições preciosas extraídas desta conversa entre Jesus e a mulher samaritana.
1. A História da Mulher Samaritana
No encontro entre Jesus e a mulher samaritana (João 4:1-26), Ele pede água a ela, iniciando um diálogo que expõe tanto sua vida pessoal quanto verdades espirituais. A mulher, surpresa por um judeu falar com ela, menciona a questão da adoração, perguntando onde seria o lugar correto para adorar: no monte Gerizim, como ensinavam os samaritanos, ou em Jerusalém, conforme a tradição judaica.
Jesus responde que a verdadeira adoração não depende de um local físico, mas deve ser feita “em espírito e em verdade”. Essa afirmação revolucionária ensina que a adoração genuína não está restrita a templos (Atos 17:24: "[..]O D-us que fez o mundo e tudo o que nele há é o Senhor do céu e da terra, e não habita em santuários feitos por mãos humanas[..]”) ou tradições humanas, mas à relação sincera entre o adorador e O Eterno.
2. Elementos Essenciais da Adoração Genuína
2.1 Pureza de Coração
A verdadeira adoração requer um coração íntegro e quebrantado diante de D-us. O Salmo 24:3-4 diz:"Quem subirá ao monte do Senhor? Quem há de permanecer no seu santo lugar? O que é limpo de mãos e puro de coração."A adoração verdadeira não pode coexistir com hipocrisia ou pecado não confessado (Isaías 1:11-18).
2.2 Obediência e Santidade
Adonai deseja um povo que O adore por meio de uma vida de obediência. Em 1 Samuel 15:22, o profeta Samuel diz: “Obedecer é melhor do que sacrificar.”A adoração que agrada a D-us não se limita a cânticos e orações, mas se reflete em uma vida de conformidade à Sua vontade.
2.3 Humildade e Temor do Senhor
O verdadeiro adorador reconhece sua total dependência de D-us e O reverencia com temor santo (Provérbios 9:10). Adoração não é sobre o que o adorador pode receber, mas sobre dar a D-us a honra devida ao Seu nome (Salmo 29:2).
2.4 Gratidão e Louvor
A adoração genuína expressa gratidão pelo caráter de D-us e por Suas obras. A carta aos Hebreus 13:15 nos exorta a oferecer “sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o Seu nome.” A gratidão nos faz reconhecer que tudo vem D’Ele, e que Ele é digno de toda a honra e glória.
2.5 Comunhão e Intimidade com D-us
Adorar a Adonai é um convite a um relacionamento íntimo e pessoal com Ele. Como Davi expressa no Salmo 63:1: “Ó D-us, tu és o meu D-us, eu te busco intensamente; a minha alma tem sede de ti.” A verdadeira adoração envolve buscar a face de D-us, e não apenas Suas bênçãos. Isto é, buscar seus pés em vez de objetivar na busca somente de suas mãos.
3. A Adoração em Espírito e em Verdade
Ao dizer que D-us é Espírito, é enfatizado a natureza imaterial e onipresente do Eterno. Isso implica que a adoração deve ser conduzida pelo Espírito Santo e baseada na verdade revelada por D-us.
3.1 Adoração em Espírito: Significa que nossa adoração deve partir do coração regenerado e guiado pelo Espírito Santo que nos conecta ao Senhor, essa adoração é um ato interno, inspirado e dirigido pelo Espírito. Não se trata apenas de rituais externos, mas de um relacionamento íntimo com D-us, no qual o adorador se entrega a Ele com sinceridade, obediência, devoção e sem reservas.
3.2 Adoração em Verdade: Refere-se à adoração fundamentada na Palavra de D-us, no conhecimento correto sobre quem Ele é, e o que é importante para o Senhor nessa relação, a sinceridade do coração (1 Samuel 16: 7b - “[..] O Senhor não vê como o homem: o homem vê a aparência, mas o Senhor vê o coração[..]”. Adorar em verdade significa viver segundo a revelação de D-us na Escritura e reconhecer que Jesus é o Messias, o caminho para o Pai. A verdadeira adoração reflete um relacionamento íntimo com o Criador. Em Romanos 8:14 está escrito: “[..] Pois todos os que são guiados pelo Espírito de D-us são filhos de D-us [..]. Em Salmos 145:18 diz: “[..] “Perto está o Senhor de todos os que o invocam, de todos os que o invocam em verdade [..]”.
4. A Adoração no Antigo e Novo Testamento
4.1 No Antigo Testamento:
A adoração estava centrada no Tabernáculo e, posteriormente, no Templo de Jerusalém. Ela envolvia sacrifícios, cânticos, orações e festas solenes, sempre com a intenção de honrar a aliança entre D-us e Seu povo. No entanto, os profetas frequentemente corrigiam Israel, apontando que D-us desejava obediência e justiça, mais do que rituais externos (Amós 5:21-24; Miquéias 6:6-8).
4.2 No Novo Testamento:
Com a vinda de Cristo, a adoração se tornou mais centrada no coração do adorador. Através de Jesus, a adoração se tornou acessível a todos os povos, e o Templo passou a ser o próprio corpo (1 Coríntios 6:19-20). A verdadeira adoração passou a ser uma oferta contínua de vida (Romanos 12:1).
4. A Adoração no Cotidiano
A adoração não se limita a momentos específicos de culto, mas deve ser uma atitude constante de vida. Isso significa:
Adorar no trabalho e na rotina diária, fazendo tudo para a glória de D-us (Colossenses 3:23).
Ter um espírito de oração e dependência contínua de D-us (1 Tessalonicenses 5:17).
Demonstrar amor e compaixão pelos outros, como parte de uma adoração e prática a D-us (Tiago 1:27).
Conclusão
O encontro de Jesus com a mulher samaritana ensina que a verdadeira adoração transcende barreiras culturais, locais e religiosas. D-us busca adoradores que o adorem em espírito e em verdade, com corações rendidos, transformados, desejosos, com fome e sede da presença – um verdadeiro adorador avidamente insaciável. A verdadeira adoração é um reflexo do relacionamento autêntico com D-us, esta adoração genuína é um ato de total rendição, integridade e amor por D-us. Ela se manifesta em todas as áreas da vida, desde os momentos de louvor congregacional até as atitudes diárias de obediência e gratidão. Por isso, não depende de tradições humanas, mas é centrado na pessoa do Messias e guiado pelo Espírito Santo. D-us não busca adoradores superficiais, mas corações sinceros que O busquem em espírito e em verdade. Assim, a verdadeira adoração envolve não apenas palavras ou cânticos, mas uma vida totalmente dedicada à glória de D-us.
Deus é bom!